quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go)

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No filme, baseado no livro de mesmo nome escrito por Kazuo Ishiguro, a impulsiva Ruth (Keira Knightly), a meiga Kathy (Carey Mulligan) e o peculiar Tommy (Andrew Garfield) são internos da casa (na falta de uma palavra melhor) Hailsham. As crianças crescem nessa mansão no interior da Inglaterra privadas do contato com o mundo externo, vivendo em um mundo padronizado e cru (acentuado aqui pelos tons neutros e escuros do interior de Hailsham, só contrastados com o verde do jardim). As crianças são lembradas de que são especiais mas que precisam andar na linha e se conformarem através dos discursos da Srta. Emily-que mais parecem They Don't Need No Education do Pink Floyd-e pelas histórias horríveis do que acontece com quem tenta cruzar os muros de Hailsham sem permissão.

O filme segue o ponto de vista de Kathy-e é narrado por ela em alguns momentos-e descobrimos juntos que todos os alunos de Hailsham, assim que estiverem maduros, se tornarão Doadores. Eles foram criados para doar seus órgãos, até que seu corpo não suporte mais, depois da terceira ou quarta operação. Aos 18 anos os três são transferidos para outra casa, mais perto da civilização e mais liberal.

Eu pude sentir a solidão de Kathy, à margem da relação de Tommy e Ruth-agora namorados. Kathy está sempre de fora, observando os gestos e as palavras do seu amor de infância. Apesar de já ter soltado muita informação, não vou contar muito mais do filme, senão estraga. Basta saber que a leveza e simplicidade da fotografia é aconchegante, a trilha é incrível e que a atuação do trio principal não deixa brecha para críticas. Keira faz uma confusa e cheia de si (mas nem por isso odiável) Ruth; Carey nos encanta com sua adorável Kathy; e Garfield nos mostra seu inocente e sincero Tommy.

O filme te leva a Imaginar como seria viver sabendo que não poderá realizar todos os seus sonhos, ou ao menos algum deles. Viver sabendo que em algum ponto muito próximo você não poderá responder pelo seu próprio corpo; ele não lhe pertence. A angústia de não ter esperanças.

Apesar do final não muito feliz, o filme todo é lindo a medida que nos apresenta o desenvolvimento dos personagens ao longo de suas vidas. Não Me Abandone Jamais tem o trunfo de nos deixar pensar por nós mesmos, nos permite completar as lacunas, sem abrir completamente o jogo. A pergunta que ficou na minha cabeça no final foi: Será que os Doadores, mesmo sem a possibilidade de um futuro, conseguem aproveitar a vida melhor do que alguns de nós?

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“O que eu não tenho muita certeza é se nossas vidas tem sido tão diferentes daquelas das pessoas que salvamos. Todos temos um fim.Talvez nenhum de nós realmente entenda o que vivemos ou sinta que tivemos tempo suficiente.”

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